Pesquisar este blog

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Em entrevista, Fabrício Fernandino fala sobre a trajetória do Festival e suas perspectivas

A partir desta segunda-feira, 20 de julho, o seminário Festival de Inverno – Perspectivas da cultura em um cenário de transformações abre uma série de discussões sobre a história e o futuro do Festival de Inverno da UFMG. Da realidade econômica atual ao papel do festival para a Universidade e para o desenvolvimento cultural em Minas Gerais, os temas em debate - e suas conclusões - devem estabelecer novos rumos para o evento. Em entrevista ao Portal UFMG, Fabrício Fernandino, curador do 41º Festival de Inverno da UFMG, falou sobre a iniciativa
.O que motivou a realização de um seminário destinado a repensar o Festival?O Festival de Inverno da UFMG é um evento de sucesso iniciado há 43 anos e que já se encontra em sua 41ª edição. Nesse período, apesar de diversas dificuldades políticas e financeiras, ele conseguiu se manter. Deixou de acontecer apenas em dois anos: em 1980, devido à ditadura militar, e em 1984, em decorrência de greve na Universidade que o inviabilizou. O evento se renova sempre, e é essa característica que mantém o seu frescor de ideias: começou com a proposta de aproximação do artista com o público, em 1967, depois se tornou palco de ações políticas. Chegou a Diamantina em 1981 e lá se tornou um festival guiado pela pesquisa e reflexão artística. Algum tempo depois passou por um processo de itinerância pelo estado, sendo sediado em Poços de Calças, São João Del Rei e Belo Horizonte. Retornou a Ouro Preto na década de 1990, quando se transformou em evento de massa e internacional – e isso demandou uma megainfraestrutura para sustentá-lo. Diamantina voltou a sediá-lo em 2000. O período foi marcado pela redução de seu formato em virtude de restrições econômicas e de adaptação à infraestrutura local. Mas novamente promoveu reflexões mais aprofundadas sobre a arte contemporânea e da relação da arte com outras áreas de conhecimento. Dessa forma, em cada período, o evento passa por transformações estruturais. Avaliamos que hoje há uma necessidade premente em propor novas discussões. Durante o seminário vamos discutir como conduzir o Festival dentro da universidade e a partir de uma nova realidade econômica extremamente desfavorável - considerando que há uma expectativa de atrelar eventos culturais ao mercado, ao marketing, e esse não é o perfil do Festival da UFMG. Nós não estamos aqui para fazer marketing, e sim para promover o conhecimento e a cultura. Temos de avaliar como manter esse evento com o seu frescor, com suas propriedades.
A reflexão vai se estender para outros festivais realizados em Minas Gerais?
Essa é uma expectativa que eu não posso definir. O evento da UFMG tem sido um balizador de águas, e que gerou todos os festivais existentes em Minas: promoveu o surgimento do festival de São João Del Rei e de Ouro Preto. Em Poços de Caldas lastreou atividades culturais que hoje acontecem anualmente e em Belo Horizonte deixou uma herança tão forte que abriu as portas para a criação do Festival Internacional de Dança e do Festival Internacional de Teatro - áreas importantes do evento da UFMG quando esteve na capital. Dessa forma ele vai semeando ideias, além do desenvolvimento e da promoção da cultura em todo o estado. Hoje Minas conta com mais de 60 festivais por ano, sendo que 15 deles são de Inverno. Provavelmente, a iniciativa do Seminário de repensar o Festival é de ponta e deve reverberar em eventos correlatos, mesmo porque todos estão tendo dificuldades semelhantes às nossas. A promoção desse tipo de evento é difícil, porque ele é complexo: trabalha com conceitos e não produz resultados imediatos, em termos de mercado e de público.
Poderia antecipar algumas reflexões sobre como promover a transição do Festival para a realidade atual?
A primeira tarefa nossa na mudança para Diamantina, em 2000, foi de organizar um festival menor e diferenciado, que tivesse uma relação muito íntima com as várias áreas do conhecimento para promover a produção cultural e novas ideias sobre o fazer artístico. A UFMG garante essas dimensões, pois as vertentes trabalhadas no evento possuem representatividade acadêmica dentro da Universidade. Exemplificando, atividades na área de literatura são lastreadas pela Faculdade de Letras; e as de artes visuais, pela Escola de Belas-Artes. Existe toda uma sustentação proporcionada por professores e pela estrutura acadêmica da instituição. No momento, um dos desafios é viabilizar economicamente o Festival. Para isso talvez seja necessário promover ações relacionadas ao trabalho de captação de recursos, de mobilização do empresariado e até mesmo da própria universidade para manter o evento vivo. Também poderemos propor mudar o formato do Festival e transformá-lo em um simpósio de arte contemporânea que se estenda por um número menor de dias, mas com acentuada projeção internacional, ou até associá-lo a outros festivais.

http://www.ufmg.br/online/arquivos/012497.shtml