Intitulado A nova classe média: o lado brilhante dos pobres e coordenado pelo economista Marcelo Côrtes Neri, o estudo destaca, entre outros fatores, a ascensão da classe C (grupo com renda domiciliar mensal entre R$ 1.126 e R$ 4.854) e a progressiva diminuição da pobreza e da desigualdade social no território brasileiro nos últimos anos.
Chamada de “nova classe média” no estudo, a classe C passou a englobar mais da metade dos brasileiros (94,9 milhões de pessoas) pela primeira vez. Em 2008, 91,7 milhões de pessoas pertenciam ao grupo, ou 49,2% do total.
O grupo também passou a ser dominante do ponto de vista econômico: ao concentrar 46,24% do poder de compra dos brasileiros, superou as classes A e B, com 44,12%.
Lição de casa
Segundo o estudo, a mudança se deve principalmente ao aumento do emprego formal no país, que duplicou desde 2004, e ao aumento da escolaridade dos integrantes da classe.
“O brasileiro fez a lição de casa, porque gerou renda e estudou. Ele é o personagem dessa transformação, ninguém fez isso por ele”, disse Neri na apresentação do estudo, rejeitando a crença de que as mudanças foram impulsionadas por programas sociais como o Bolsa Família ou os de microcrédito.
O inchaço da classe C ocorreu em paralelo à diminuição das classes D e E, que foram reduzidas de 96,2 milhões em 2003 para 73,2 milhões em 2009. Ou seja, o equivalente a meia população da Grã Bretanha foi incorporado às classes A, B e C nos últimos sete anos.
As classes A e B, aliás, foram as que mais cresceram em termos relativos no período: 39,61%. O grupo, composto por cerca de 20 milhões de pessoas, corresponde a 10,5% da população brasileira.
Redução da desigualdade
Apesar do notável crescimento relativo das classes A e B, a renda per capita do grupo tem crescido num ritmo menor do a dos mais pobres. Entre 2001 e 2009, ela aumentou 1,49% ao ano, enquanto a dos mais pobres cresceu à taxa de 6,79% anuais.
Como resultado, a desigualdade social está próxima do menor nível desde o início dos registros, em 1960, adotando-se como referência o índice Gini.
O coeficiente, que varia de 0 (expressa igualdade total) a 1 (desigualdade máxima), atingiu 0,54 em 2009, ante 0,53 em 1960. No ápice, em 1990, o valor chegou a 0,6.
Para Neri, a redução da desigualdade é um fator que diferencia o crescimento brasileiro do da Índia e da China. “Crescemos a taxas menores do que as deles, mas lá a desigualdade está aumentando.”
Mesmo com a redução, a desigualdade brasileira segue entre as dez maiores do mundo, e, mantido o ritmo de crescimento, seriam necessários 30 anos para que ela chegasse ao nível dos Estados Unidos.