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terça-feira, 5 de julho de 2011

Tudo sobre Arte Tecnológica

A arte tecnológica e multimídia desenvolve-se no Brasil a partir dos anos 1970, na seqüência de desdobramentos da arte construtiva e da arte conceitual, e tem seu território privilegiado em São Paulo. Waldemar Cordeiro (1925-1973) começa a trabalhar com computadores em 1968 no Centro de Processamento de Imagens da Unicamp, e realiza em 1972, em São Paulo, a mostra Arteônica - O Uso Criativo dos Meios Eletrônicos em Arte. No catálogo da mostra, ele afirma: "Se os problemas artísticos puderem ser tratados por máquinas ou por equipes que incluam o partner computador, poderemos saber mais a respeito de como o homem trata os problemas artísticos". Em 1973, Aracy Amaral organiza para a firma Grife, de São Paulo, a mostra Expoprojeção, com audiovisuais, filmes super-8 e discos de 42 artistas brasileiros. Foi o primeiro levantamento que se fez no Brasil da produção artística com essas novas mídias. Entre os participantes estão Antonio Dias (1944), Antonio Manuel (1947), Artur Barrio (1945), Carlos Vergara (1941), Cildo Meireles (1948), Décio Pignatari, Frederico Morais, Hélio Oiticica (1937-1980), Iole de Freitas (1945), Luiz Alphonsus (1948), Marcello Nitsche (1942), Mario Cravo Neto(1947), Olívio Tavares de Araújo, Raymundo Colares (1944-1986) e Rubens Gerchman (1942 - 2008). O audiovisual e o super-8 aparecem quase simultaneamente no processo mundial de miniaturização da cultura e são amplamente usados pelos artistas plásticos brasileiros. O principal núcleo de audiovisualistas no Brasil está em Belo Horizonte, onde se destacam, no início dos anos 1970, Maurício Andrés Ribeiro, Beatriz Dantas e George Helt. Germano Celant realiza na Itália, em 1973, a mostra The Record as Artwork. Antônio Dias e Cildo Meireles estão entre os brasileiros que usaram o disco como suporte para suas especulações estéticas. Xeroqueiro desde 1974, Bené Fonteles faz uso "selvagem" e agressivo da xerografia, tratando a quente os acontecimentos políticos e culturais ao mesmo tempo que associa esse meio à arte postal. Como ele explica: "O que mandavam, ia xerocando, interferindo, enviando de volta: reciclagem, amizades, correio sentimental, relações humanas, vida, amor". Hudinilson Jr. xeroca seu próprio corpo no evento Xerox Action, realizado em 1983 no MIS/SP. No segundo semestre de 1974, Anna Bella Geiger, Sônia Andrade, Ivens Machado, Ângelo de Aquino e Fernando Cocchiarale começam a empregar o vídeo como ferramenta criativa. Os paulistas Donato Ferrari, Júlio Plaza, Regina Silveira e Gabriel Borba Filho vieram um pouco depois. O grupo carioca participa com seus vídeos da 8ª Jovem Arte, no MAC/USP, que em 1976 adquire aparelhagem e monta um setor de vídeo. Dois anos depois, José Roberto Aguilar e Marília Savoya promovem no MIS/SP o 1º Encontro Internacional de Vídeo no Brasil. Por volta de 1974, Júlio Plaza e Regina Silveira empregam a heliografia como suporte para seus trabalhos de arte, mas quem mais se dedica a esse meio entre nós é o argentino Leon Ferrari, residente em São Paulo. Em 1981, a Pinacoteca do Estado de São Paulo reúne em exposição cerca de trinta artistas cariocas e paulistas que trabalham com a heliografia com diferentes enfoques temáticos e formais. A primeira mostra de holografia no Brasil acontece na Fundação Bienal de São Paulo em outubro de 1980, cabendo ao artista plástico José Wagner Garcia a realização da primeira individual, ocorrida no MIS/SP, dois anos depois. Eduardo Kac, Fernando Catta Preta, Moysés Baumstein, Júlio Plaza e Décio Pignatari são alguns, entre os criadores brasileiros, que têm se dedicado à holografia. A 16ª Bienal de São Paulo, 1981, monta uma sala especial de âmbito internacional sobre arte postal, com curadoria de Júlio Plaza e apresentação de Walter Zanini. Este define a mail art como uma atividade processual que evidencia o fenômeno de desmaterialização da arte. Um dos primeiros grupos a empregar o correio como veículo artístico no Brasil foi o Poema-Processo, ainda nos anos 1960. Coincidindo com o lançamento da monografia Quase Cinema - Cinema de Artista no Brasil, 1970/80, Ligia Canongia promove pequena mostra na Galeria Sérgio Milliet da Funarte, em 1981. Segundo a autora, "o cinema de artista talvez pudesse ser compreendido como uma soma de suas linguagens específicas: a do cinema propriamente dito e a das artes plásticas, que acabaria por configurar uma terceira linguagem particular e autônoma". Hélio Oiticica, Raimundo Collares, Antônio Dias, Barrio, Iole de Freitas, Arthur Omar, Antonio Manuel, Lygia Pape, Miguel do Rio Branco são alguns artistas analisados. Regina Silveira e Rafael França realizam em 1982, em São Paulo e no Rio de Janeiro, a mostra Arte Micro: A Microficha como Suporte da Arte. Os 32 artistas que participam da mostra, com 380 trabalhos, usam microficha de 10,5 x 15 cm, que reduz 24 vezes o original, permitindo assim reproduzir em cada lâmina 48 trabalhos, que são vistos num aparelho visor manipulado pelo próprio usuário. No catálogo, Regina define sua proposta como uma paródia do "museu imaginário" de Malraux, arte portátil, de bolso. Annateresa Fabris e Cacilda Teixeira da Costa realizam para o Centro Cultural São Paulo, em maio de 1985, a mostra Tendências do Livro de Artista no Brasil. Livros de artistas existem no Brasil há muito tempo, como o Livro da Criação, de Lygia Pape (1959), mas somente nos anos 1970 começam a aparecer em mostras coletivas, como Poéticas Visuais (1977) e Poucos e Raros (1978 e 1980), refletindo preocupações dos artistas multimídias. As duas últimas exposições abrangentes de arte tecnológica são a que Júlio Plaza organizou para o MAC/USP, em setembro de 1985, e Brasil High Tech, que Eduardo Kac preparou para o Centro Empresarial Rio, em abril de 1966. A primeira tem várias seções: arte computador, holografia, microficha, videoarte, videotexto, heliografia e xerox. Explicando os mecanismos de criação dessa arte tecnológica, escreve Plaza no catálogo: "Se nas artes artesanais a produção é individual, nas artes industriais e eletrônicas a produção é coletiva, colocando em crise a mística da criação e a noção do autor. Pelo menos, o artista já não pode mais criar sem a ajuda do engenheiro, do matemático e do programador de dados".

http://catracalivre.folha.uol.com.br/2011/01/arte-tecnologica/

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