Este blog é um espaço cultural que tem por objetivo mostrar fatos atuais e aspectos importantes da área de artes. É mantido por alunos de uma turma de nono ano do Ensino Fundamental Maior. Foi construído com o objetivo de levar à sociedade um conjunto de informações e conhecimentos; realizar associações, produzir textos criativos e despertar a consciência crítica.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2011
O que sentimos na desgraça - Lya Luft
Nestes tempos de desgraças causadas pelo clima, pelo homem, pelo destino, pelos esperneios da mãe natureza ao se sentir agredida - ou simplesmente, como querem alguns, porque de tantos em tantos milhões de anos ela esperneia mesmo -, nossas emoções andam sendo postas à prova. É difícil, ainda que não tenhamos ninguém conhecido ou querido morando nas zonas atingidas em várias panes do país e do mundo vejam a Austrália, a Alemanha e outros -, conter o sentimento de horror, compaixão, tristeza e medo, vendo e calculando tanto sofrimento sem sentido. Na região serrana do Brasil, pelo jeito serão mais de 1200 mortos. Muitos talvez nunca sejam encontrados. A bela serra do estado do Rio de Janeiro terá enormes cemitérios de corpos anônimos: quem vai querer ainda construir e morar em cima disso, mesmo que seja num ponto julgado não perigoso pelas autoridades? Na verdade não sei. Nós, humanos, temos lá nossas esquisitices.
Há muitos anos os dramas se repetem, e se repetem as desculpas e as acusações. Vontade política parece ser o primeiro fator dessa nossa fragilidade e dor: vontade real, que supere interesses eleitorais ou financeiros, e se ocupe com o bem do povo. Posso me enganar, eu que não tenho partido político, mas olhos para enxergar e ouvidos para ouvir - às vezes, boca para falar -, porém vejo na nossa presidente uma seriedade que me conforta: ministros pontuais diante de seus notebooks, todo mundo trabalhando, numa primeira reunião, visão nunca antes mostrada, que eu me recorde. Ela não parece gostar de bobagem, de preguiça, de devaneios, de desculpas esfarrapadas, de atrasos e de incompetências. Imagino que corrupção, nem pensar. Muita gente tremendo nas bases. Começo a me sentir mais otimista.
Mas, numa democracia, vontade política também implica governadores, prefeitos, todos. Que trabalheira coordenar isso, só de pensar me canso. A presidente não parece se cansar tão fácil.
Antes até dessa vontade, vem a consciência das pessoas. Superar a ignorância e a desinformação. Cultivar a dignidade, que significa saúde, moradia, comida, estudo. Um povo informado escolhe governantes cuja vontade política se dirige a eles, ao povo, às pessoas, à gente.
Tudo isso misturado, fortalecido, respeitado, poderia diminuir algumas desgraças, como essas a que me refiro acima. Não que a mãe natureza vá olhar para a gente e dizer: bem, eles se comportam direitinho, fazem sua lição de casa direito, então vou controlar minhas convulsões. Mas talvez houvesse menos moradias em lugares perigosos, mais alerta quando o drama se inicia ou ameaça, mais socorro, mais prevenção, mais inteligência e mais respeito. Gente morando melhor, saúde mais atendida, mais informação porque mais estudo, menos desgraceira inútil.
Mas há um outro assunto que me incomoda sempre que se noticiam desgraças, de multidões ou indivíduos. Tem a ver com a reportagem. Quero avisar que minha relação com a imprensa sempre foi excelente, de respeito, até carinho de parte a parte. Muito me ajudaram nessa já longa carreira, respeitaram minha vida pessoal. Com 20 e poucos anos tive minha primeira coluna em jornal. Conheci aquelas redações fumacentas e barulhentas, vibrantes, excitantes. Meu filho mais moço foi jornalista por alguns anos. Então, aqui não há nenhuma reserva nem implicância, ao contrário.
Mas eu queria que os jovens repórteres recebessem alguma instrução para não perguntarem à velhinha que perdeu duas filhas e cinco netos, a casa, metade dos amigos, como ela se sente. Nem indagarem mais ao pai de uns 30 e poucos anos que desesperadamente quer tirar da lama a filhinha morta de 3 anos: “E como o senhor está se sentindo?”. Ao que responde com olhos duros de sofrimento: “O que você acha?”. E eu quis puxar as duas orelhas do jovem repórter.
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