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segunda-feira, 11 de julho de 2011

ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL

O panorama dos anos 80, que marca a transitoriedade da era moderna para a pós-moderna, se configura no Brasil pela abertura política e a transição democrática (final do regime militar e a instituição das eleições diretas em 1984). Um contexto de desemprego marca o período, enfraquecendo o poder reivindicatório de sindicatos e associações. Cresce no país uma oferta de consumo relativa à indústria cultural e a proliferação tecnológica de consumo doméstico, com CDs, canais de TV a cabo e por assinatura. Apoiados por leis de incentivo fiscal proliferam exposições de arte de grande porte, espetáculos de teatro, balés. A enorme força dos meios de comunicação de massa influenciam fortemente jovens artistas, que formam a chamada Geração 80.
As grandes telas e pinturas vigorosas que caracterizam a produção desta geração incitam um reencontro com o prazer e com a emoção provocados pelos gestos das pinceladas e pela cor, combatendo um certo tédio provocado pela linguagem considerada hermética ou cifrada que caracteriza o projeto de arte concreta ou conceitual. Ao mesmo tempo, estas obras se nutrem de comentários e questionamentos fora do âmbito da arte, que se referem à realidade cotidiana e social brasileira.
As pinturas da Geração 80 são marcadas por se comunicarem imediatamente com o observador. Muitas vezes, essas telas revelam figuras que carregam a sensibilidade dos cartuns e do grafite, espelhando uma manifestação significativa no contexto das cidades nos anos 80. Os grandes formatos se relacionam a essa necessidade rápida e instantânea de chamar a atenção do público.
Os happenings e mostras, que acontecem em locais alternativos estabelecidos fora do circuito comercial são pouco a pouco substituídos por exposições institucionalizadas em galerias e casas de leilão testemunhando um fortalecimento do mercado. Os jovens e talentosos pintores da Geração 80 produzem telas comerciáveis e se integram ao sistema mercadológico. Artistas do momento tornam-se focos da mídia.
Substituindo a característica mental da arte concreta e a agenda claramente política da arte conceitual, a arte da Geração 80 inclui comentários sociais que estão pincelados nas realidades cotidianas, mas se estruturam de formas individuais.
O contexto dos anos 90 terá forte impacto na formação artística da nova geração.
Nesse mundo, o sistema de corporações e o anonimato reestruturam rapidamente as relações construídas sobre um terreno globalizado. A queda do muro de Berlim e o final do comunismo reajustam as estruturas políticas mundiais em favor do neoliberalismo que também começa a ruir com a crescente monopolização dos meios tecnológicos e de informação. A AIDS, o Ebola e outros vírus fatais desafiam um mundo que parecia dominado e controlado pela ciência. A física quântica, o projeto Genoma e as clonagens de DNA relativizam conquistas científicas e apresentam ao mundo uma estreita e complexa ligação entre arte, ciência e tecnologia. A Internet e seus desdobramentos virtuais constroem promessas de núcleos cibernéticos de vida e reafirmam o conforto doméstico dos contatos humanos à distância.
Uma nova espiritualidade, impulsionada pelo final do século e milênio, toma contorno através de pensamentos e atitudes como a chamada new age. Numa onda neoconservadora, revaloriza-se a família e nasce o chamado pós-feminismo.
O crescimento de poluentes, o desgaste da camada de ozônio da estratosfera, o aquecimento generalizado e gradual do planeta e a iminência de uma falta d’água generalizada em médios prazos fazem da ecologia a palavra de ordem de um número crescente de ONGs, ainda que exista a consciência de que problemas ecológicos estejam emaranhados na rede de interesses econômicos dominados pelo Primeiro Mundo.
A importância dada à moda, ao mundo das aparências e “atitudes”, aliado a uma tecnologia sofisticada de cirurgias plásticas, implantes, aparelhos de ginástica, vitaminas e outras substâncias químicas, além das possibilidades de modificações genéticas que se abrem com os primeiros seqüenciamentos cromossômicos fazem do corpo um campo de experimentações futuristas.
Culturalmente, uma busca de experimentações underground, que caracterizavam a vanguarda modernista do século 20, é substituída pela busca de celebridade, transferindo o foco das preocupações e olhares, da produção para o produtor, da obra para o autor. Um exemplo desse tipo de comportamento está no sucesso absoluto da revista Caras, lançada em 1993.
No contexto econômico, uma expansão ditada pelo corporativismo e pela globalização impulsiona a busca de mercados alternativos, lançando discursos politicamente corretos, ao mesmo tempo em que guerras étnicas explodem pelos limites da nova geografia mundial.
As guerras, a pobreza e a instabilidade política e social que marcam muitos países provocam um fluxo geográfico internacional, fazendo que se instaure uma nova noção de identidade e nacionalidade. O espaço flexível e instável, emblemático da era global, se expande em um tempo também marcado pela instabilidade e pela fragmentação de informações e pelo excesso de imagens e de estímulos de diversas naturezas. Tempo e espaço se redefinem na linguagem dos videoclipes da MTV, na comunicação via Internet, nos hipertextos, nos painéis eletrônicos de alta definição e movimento, instalados estrategicamente nas grandes cidades, observados pela massa de automóveis estagnados no trânsito. Junções de grandes corporações como a AOL e a Time Warner transformam a informação em novos e superpotentes monopólios de poder.
A esse panorama costura-se uma consideração fundamental: a noção que a originalidade da criação é um mito modernista. O conceito se alastra com as noções e práticas pós-modernas, ligadas a uma atração pelo passado, pela memória, pelas convenções e clichês. A busca pela originalidade e autenticidade está sendo progressivamente engolida e perdem seu lugar e seu sentido em um mundo gerado pela informação midiática e pela reprodutividade virtual
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